Jaehyun deixa como legado triste lembrete sobre o custo humano da busca por perfeição no K-pop, inspirando novos debates sobre saúde mental na indústria do entretenimento sul-coreana
O universo do K-pop foi abalado com a trágica morte de Jaehyun, ex-membro do grupo F.ABLE, aos 23 anos. O cantor sul-coreano faleceu no final de junho após lutar silenciosamente contra uma forma agressiva de leucemia, um tipo de câncer que afeta o sangue e a medula óssea, comprometendo a produção saudável de glóbulos brancos. Foi uma batalha que enfrentou longe dos holofotes da internet.
A perda precoce do idol ressoou profundamente não apenas entre fãs, mas também entre especialistas e defensores da saúde mental, que vêm há tempos denunciando a grande pressão imposta sobre os artistas da cena asiática como um todo.
Nos stories do Instagram, o ex-companheiro de grupo de Jaehyun, Hojun, compartilhou uma emocionante homenagem após a morte do amigo, expressando seu pesar e suas palavras de despedida que, segundo ele, “não pôde dizer pessoalmente”.

Em síntese, Hojun lamentou não ter estado ao lado de Jaehyun em seus últimos momentos de vida. Além disso, falou com carinho sobre os anos de amizade e o legado deixado pelo colega.
Jaehyun, eu soube da notícia tarde demais… Me desculpe por não ter estado ao seu lado no seu último caminho. Penso muitas vezes no que poderia ter feito diferente e me arrependo. Espero que você possa deixar para trás todas as suas preocupações e viver confortavelmente aí no céu. Obrigado pelos últimos cinco anos. Espero que você esteja comendo muitas coisas gostosas e esteja bem aí. Apareça nos meus sonhos de vez em quando.
Um sistema que não permite falhas
A indústria do entretenimento sul-coreana é conhecida por sua estrutura rigorosa e competitiva. Desde bem moços, os chamados trainees, jovens em preparação para se tornarem idols, lidam com rotinas de treinos exaustivas, restrições alimentares severas e intensa autocobrança em relação à própria aparência.
Casos como o de Jaehyun, ainda que ligados à saúde física, ilustram o impacto de um sistema que raramente permite pausa ou vulnerabilidade. A decisão de esconder sua doença pode refletir o medo de parecer “frágil” em um mercado onde se exige brilho constante.
Outros nomes do K-pop, como Sulli, Jonghyun e Hara, também se foram cedo, vítimas de doenças emocionais agravadas pela pressão pública. O caso de Jaehyun adiciona uma nova camada à situação: mesmo fora dos palcos, ele optou por manter silêncio sobre sua luta, refletindo o estigma que envolve a saúde mental na indústria cultural sul-coreana.
O vídeo abaixo, produzido pelo canal Natisatv, aborda o caso de Mina, ex-integrante do AOA, que relatou ter sofrido bullying dentro do grupo e se abriu acerca de seus sentimentos. A análise destaca como a falta de apoio e compreensão pode levar a consequências trágicas, evidenciando a urgência de se discutir saúde mental no K-pop.
A jornada de um talento brilhante
Nascido em 7 de abril de 2002, Shim Jaehyun debutou no F.ABLE em 2020 como o mais novo do grupo (maknae), sob a gestão da Haeirum Entertainment. Com vocais suaves, porém poderosos, postura serena e carisma cativante, o jovem cantor logo chamou atenção na cena idol, mesmo atuando em um grupo que nunca alcançou o mainstream.
Faixas como “Burn It Up” e “Run Run Run” marcaram a trajetória da boyband, que se destacou por sua sonoridade inovadora e única. Com uma fusão de pop eletrônico e R&B, eles trouxeram uma proposta musical fresca, unindo uma energia jovial contagiante a momentos de introspecção.
Em 2023, o grupo interrompeu suas atividades, com três membros seguindo para um novo projeto intitulado “ENPHAZE”. Embora a agência dos meninos não tenha divulgado uma explicação oficial na época, esse hiato coincidiu com o afastamento de Jaehyun da vida pública.
Homenagens e legado
Fãs de Jaehyun continuam mobilizados nas redes sociais, compartilhando mensagens de carinho, fanarts e belíssimos tributos em sua memória na forma de edits. Diversas publicações do TikTok foram inundadas por comentários como “descanse em paz”, “obrigado por ser a nossa luz”, entre outros. Muitos expressaram alívio por sua paz final e gratidão por sua presença, ainda que discreta.
A morte de Jaehyun não é apenas uma triste perda precoce de um jovem talentoso, mas um urgente alerta sobre a necessidade de transformação nas engrenagens da indústria do K-pop.
É preciso construir um ambiente que valorize a saúde emocional e física de seus artistas, promovendo espaços seguros para que possam expressar suas dores e limitações sem medo de julgamento ou represália.
Que sua partida inspire empresas, fãs e profissionais da arte a repensarem a cultura do silêncio e a priorizarem o cuidado com a saúde acima de tudo, para que o brilho no palco nunca custe a vida fora dele.
Crédito da imagem em destaque: Reprodução/DEULAMA