Guerreiras do K-Pop é um fenômeno que mistura mitologia coreana e universo idol para contar história de autoaceitação
A onda hallyu nunca esteve tão alta. Grupos de K-Pop lotando estádios fora da Ásia, dramas coreanos sendo exibidos na TV aberta, atores realizando fanmeetings no Brasil, e agora mais fenômeno chega nessa lista: o filme de animação Guerreiras do K-Pop da Netflix é um sucesso dentro e fora da plataforma de streaming.
Anunciado pela primeira vez em 2021, o filme foi idealizado pela ilustradora Maggie Kang, que queria contar uma história sobre a cultura coreana de um jeito diferente de como é mostrado pela mídia tradicional. Dessa forma, Guerreiras do K-Pop juntou mitologia coreana com elementos da cultura idol em um musical de fantasia que rompeu barreiras e alcançou um público amplo e diverso.

No longa, demônios atacavam humanos nos tempos antigos e roubavam suas almas para alimentar o Rei Demônio Gwi-Ma. Para combatê-los, três sacerdotisas tornam-se caçadoras e usam o poder da música para criar um escudo mágico chamado Honmoon, que isola os demônios. O legado de proteger o escudo é passado de geração em geração para um novo trio de guerreiras, que sempre atua no mundo humano como um grupo musical.
Nos dias atuais, a missão cai sobre Rumi, Mira e Zoey, que formam o girlgroup HUNTR/X. O trio está prestes a selar de vez o Honmoon quando uma nova ameaça surge: um boygroup rival formado por demônios chamado Saja Boys. Os vilões pretendem usar músicas chiclete para atrair os humanos e roubar suas almas. Entre os inimigos está Jinu, um demônio que tem mais em comum do que imagina com a líder Rumi.

Kang descreveu seu filme como uma carta de amor ao K-Pop e qualquer fã vai perceber isso. Mesmo com algumas liberdades criativas, o longa é fiel na representação de vários pontos fundamentais da cultura de fã, como as sessões de autógrafo, music shows, programas de variedade, premiações de fim de ano e o fanservice, que é um aspecto narrativo importante da obra.
Inclusive, a composição dos dois grupos rivais só foi possível graças a um batalhão de idols que serviram de inspiração. Percebeu alguma semelhança com seu bias? Isso porque a produção usou arquétipos familiares para fãs de qualquer geração. O membro perfeitamente dentro do padrão coreano, a vocalista principal que engole metade da música, o integrante com o talento de tirar a camisa. Todo mundo conhece um idol com um perfil assim.

Produzido pela Sony Pictures, Guerreiras do K-Pop entrega muito do que já foi visto em outros títulos do estúdio, como Homem-Aranha no Aranhaverso e Gato de Botas e o Último Desejo: uma mistura de vários estilos de animação e claras referências ao universo dos animes, o que faz dele um espetáculo visual vibrante, dinâmico e cheio de personalidade.
A trama é um uso clássico da fantasia para falar sobre problemas reais, como conflito entre gerações e a aceitação das diferenças. A presença de “partes demônio” são uma clara analogia para erros, defeitos, entre outras coisas que somos forçados a esconder da sociedade. As músicas de ambos os grupos complementam a mensagem do enredo, abordando inseguranças, resiliência e força interior.
Tanto que a trilha sonora já caiu no gosto popular. Golden do HUNTR/X (cantada por EJAE, Ami Rei e Audrey Nuna) chegou ao topo do Spotify Global e mais quatro músicas do filme entraram no top 10. Esse é o melhor desempenho que um “grupo de K-Pop” já conquistou nas paradas, superando os números tanto do BTS quanto do BLACKPINK.
Guerreira do K-Pop poderia ter passado despercebido como várias outros títulos que a Netflix lança por mês, mas a junção de uma história carismática, animação estilizada e músicas cativantes fez com que o filme conquistasse mais de um nicho e fosse além do público que pretendia atingir. Quem parecia que estava pegando carona, está liderando a corrida.
Do fenômeno Squid Game ao sucesso só para baixinhos de APT., os produtos culturais coreanos estão cada vez mais assimilados no imaginário popular. Isso se deve não só a uma indústria que investe pesado em TV, cinema e música, mas também a criadores dispostos a fazer arte com a cara deles. Novas histórias estão sendo construídas fora da perspectiva ocidental, e a melhor parte? Elas estão sendo ouvidas.
Crédito da imagem em destaque: Reprodução/DEULAMA