Grupo de 64 cidadãos foi trazido de volta em voo fretado após escândalo envolvendo redes de golpes digitais e a morte de um estudante coreano no Camboja
Um voo fretado da Korean Air aterrissou no Aeroporto Internacional de Incheon na manhã de domingo (19), trazendo de volta 64 cidadãos sul-coreanos detidos no Camboja sob suspeita de envolvimento em esquemas de fraude digital e tráfico de pessoas. A operação, que durou cerca de cinco horas, é considerada a maior repatriação coletiva de suspeitos criminais já realizada pela Coreia do Sul a partir de um único país.
A ação ocorreu em meio à comoção pública provocada pela morte de um estudante universitário sul-coreano, torturado e assassinado no Camboja após ser enganado por uma falsa proposta de emprego. O caso expôs a atuação de redes criminosas locais que recrutam estrangeiros para golpes online, especialmente direcionados a vítimas na Coreia do Sul.

Segundo a Agência Nacional de Polícia da Coreia (NPC), 59 dos repatriados foram formalmente acusados, e a maioria enfrenta mandados de prisão por participação em fraudes financeiras, golpes românticos e esquemas de phishing por voz. Outros cinco foram liberados por falta de provas.
Durante o interrogatório, alguns dos suspeitos afirmaram ter sido mantidos em cativeiro e agredidos por membros das quadrilhas, apontando que parte deles atuava simultaneamente como vítimas e cúmplices. A polícia coreana informou que está verificando essas alegações, e todos os 64 passaram por exames toxicológicos — os resultados iniciais foram negativos.
A repatriação envolveu 190 policiais a bordo do voo e 23 veículos posicionados em Incheon para distribuir os suspeitos a delegacias de várias províncias. Paralelamente, autoridades sul-coreanas e cambojanas discutem agora medidas para rastrear e recuperar os lucros ilícitos obtidos pelas redes criminosas. O Ministério da Justiça da Coreia confirmou que negocia um acordo legal com o governo cambojano para facilitar a devolução desses fundos.

Entre os alvos das investigações está o Prince Group, um conglomerado cambojano acusado de financiar operações fraudulentas. Segundo dados obtidos pelo Serviço de Supervisão Financeira, cinco bancos sul-coreanos — incluindo KB Kookmin, Woori, Shinhan e JB Bank — teriam realizado 52 transações com o grupo, somando cerca de ₩197 bilhões (aproximadamente R$ 730 milhões).
Em resposta à crise, o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Sul anunciou planos para reforçar o corpo consular no Sudeste Asiático, com a contratação emergencial de 40 novos funcionários e a criação de um Escritório Coreano no Camboja, semelhante ao já existente nas Filipinas e na Tailândia.
Atualmente, estima-se que mais de 3 mil sul-coreanos permanecem no Camboja sem retorno registrado, número que cresce desde 2022. As autoridades esperam que o caso leve a uma revisão ampla das políticas de segurança e proteção consular para cidadãos no exterior.

Crédito da imagem em destaque: Reprodução/The Korea Herald

